We
are the hollow men
We
are the stuffed men
T
S ELIOT
os
livros lidos não pesam
não
fazem volume
o
que ingerimos
não
faz diferença
qualquer
vento nos leva
estamos
mortos
carregando
nossos ossos
em
uma maleta simétrica
cotidianamente
seguindo
e ouvindo o caos
como
se fosse o cantar de anjos
sobre
estátuas de cobre
estamos
mortos
mas
vivos o suficiente
para
ligarmos a tv
recolhermos
a voz
e,
assim, desfazer, o gesto
na
verdade precisamos
de
um pouco de álcool
para
encher nosso estômago
e
esquecer o que não lembramos
ou
não nos foi ensinado
esquecer
o
que não tivemos força de espírito para buscar
precisamos
de álcool
ou
qualquer outra substância
que
nos impeça procurar por um sentido oculto
no
viés da madrugada tóxica na qual se ouve o caminhar de ratos
nas
folhas secas do tempo
na
qual se ouve
um
rio sem fôlego
de
todos nós
por
todos nós
gemendo
sem
coragem para tirar os olhos da superfície
apanhadores
sucata tecnológica
freqüentadores
da casa de leucotomia
na
viela sem luz no beco sem som
abrigados
na carcaça de um relógio
alguns,
mais soturnos
ouvem
sempre
um
estribilho já sem força semântica:
“se
continuares assim não vais longe”
mas
ir longe deve ser apenas
uma
das tantas convenções
que
nos fazem embrutecidos
ir
longe quer dizer
uma
forma diferente de de desperdiçar a vida...
ela
disse que que eu não poderia fumar no local
tudo
bem, mas eu torno a perguntar onde fica o “longe”
ela
sorriu de forma cinzenta
e
me prescreveu algumas drogas controladas
no
fundo ela não sabia onde fica o “longe”...
as
portas permanecem fechadas
para
o renascer de qualquer mito
somos
a geração pragmática
a
geração estática
sem
mal darmos conta que estamos
com
a alma fendida
qual
a direção do ir longe?
Ir
longe é enfeitar a casa para uma festa
que
aconteceu ontem?
corremos
atrás de dinheiro
só
falamos em dinheiro
até
em preces pedimos dinheiro
vamos
para um templo resolver nossos problemas financeiros
lemos
o bhagavad-gita a procura de dicas
para
sermos prósperos
e
adquirir um dente de ouro-última moda da semana
entramos
com ações judiciais
contra
o vendedor de algodão doce, o pipoqueiro
o
leiteiro
assim
como
ofertavam
aos autóctones
espelhos
a preço de escravidão
como
última tecnologia
da
europa
ofertam-nos
tudo
que não precisamos:
olhos
mágicos perecíveis
penicos
eletrônicos
tevês
ergométricas
aparelhos
de não ouvir
cadeiras
multimídia de não descansar
óculos
3D para ocultar as árvores
limpadores
de cocô de pombo wi-fi
olhamos
maravilhados
como
os primeiros índios
olhavam
para os espelhos
vendo
suas próprias caras
na
lâmina tecnológica
compramos
sim
compramos tudo
por
que não?
temos
cartão
e
o milagre da economia
apple
em 10 vezes
compramos
para
encher no nossos baús
e
esquecer o que não lembramos
ou
não nos foi ensinado
esquecer
o
que não tivemos força de espírito para buscar
só
não conseguimos comprar
o
mês presente
conjugar
o amor
somos
órfãos
de
algo que nos contemple
verdadeiramente
uma
verdade espiritual
que
nos dê a chance de nascer
Espero
que nossos olhos cansem
Espero
que a escuridão mais densa que a noite
chegue
e leve nosso aspecto
de
desespero
o
fogo purifique a pele
e
consuma as escaras do espírito
estamos
tão opacos
com
aparência de espantalhos
mas
usamos algumas fragrâncias
e
colocamos panos caros
por
cima das feridas
por
cima dos braços
de
palha
do
tórax
oco
Espero
que nossos membros se abram finalmente
Espero
que a escuridão mais densa que a noite
chegue
e leve nosso aspecto
de
barcos na tempestade
o
verbo purifique a pele
e
consuma todo o desnecessário
para
ficarmos a sós contemplando
a
dialética do instante
sem
medo de que o instante
é
tudo o que temos
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