suspendam caravelas e seus descobrimentos
suspendam violinistas e suas partituras
foi detectada uma pobreza mórbida no quintal
e repentinamente a tarde se vestiu de gris
a secura do pão corta a garganta
o café tem o gosto de remédios da infância
solda queimada
o café não reabilita o prisioneiro da tarde
assim o ator improvisado
esquece a fala perde os sentidos
por medo da bomba de informação
dispersando os últimos farelos
de seu talento
bardos esfarrapados esgotaram o último barril de vinho
e não atinam escrever qualquer verso na superfície de
lata
com pregos enferrujados
os bardos são apenas cabelos gordurosos dentes manchados de
roxo
pingos de urina nas calças
e olhos avermelhados de culpa
um pai sem fonemas de sonho deteriorado
balbucia o corpo de
açúcar sobre a mesa
e a mãe de olhos imantados para o sul
ri seu riso opaco com dentes de analgésico
(numa garagem o verdugo espanca moedas com martelo
para que elas percam o brilho e o valor
há de sempre se perder o valor e virar uma tarde chumbo)
tudo suspenso
pois não há dignidade na parede crua
nos dedos de nicotina
ou na tampa partida do sanitário
tudo suspenso no espaço e na hora grave
tendo em vista que as articulações se inflamam
para o recíproco abraço
e a roupa de cama é o cardume festivo
à beira do cadáver novo
tudo suspenso
até que a noite se debruce sobre toda a miséria
e se cale a dor do último esqueleto
com a noite venha
um licor mais lustroso
sangue de deus-filho para
redimir o drama desta tarde.