quarta-feira, 25 de novembro de 2015

...

Ferozmente
Um arquipélago
Constelação

Para reinventar
Leis
E bramidos estoicos

(Amplitude do
Ressecado negro
Pulmão)

Sírinx ou cilício
Cerrar é findar, enfim
A agonia

O pensamento
Inda que lógico
Jamais rescindirá o imprevisto

Uma bobina de telex
(Em prantos)
Jamais abolirá
A lógica

As ciências duras
Jamais hão de subverter
A anagogia
Do falcão

Sem ciência
Como perdurar
Qualquer medida
Na medula
Do coração

Qualquer ciência
É um lance de dados
No acaso do tempo.


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Não li todos os livros

La Chair est triste, helas! Et j'ai lu tous les livres
Mallarmé


Não li todos os livros
Mas com os poucos
Que me foram íntimos
(Tomando nas mãos
Suas palavras e sons)
Construí uma jangada

Com ela
Colho a fúria do mar
E me deparo com a morte
A cada momento
Nela descanso meu corpo
Queimado de sal
Tostado de sol

Não li todos os livros
Os poucos que me foram caros
Ofertaram o doce perigo
De intempéries
Garantiram a humilde alegria
Da Busca
Que não idealizei em mapas

Há sempre ilhas e imprevistos
Para uma jangada verbal
De tábuas semânticas
Perdida entre os braços
De um deus adormecido

Que o acaso me dê
Que o mar me oferte
O desconhecido
O segredo
Dessa aventura.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

[Entre o quase término]

Entre o quase término
Do tempo
Há o ponto final à espreita

E
Tudo ainda é
Uma colheita magra
Porvir enevoado
Espantalhos opacos dançando
Num jogo autoindulgente

Recomeço o rito
Da combustão
Outrora interrompida
Num quarto 3x4
Recomeço quantas vezes for necessário
Por legítima falta de rumo

(Esteticamente um horizonte cheio de cal
E a lascívia preenche o afeto dos olhos
E dá um sentido para os papéis
Impregnados dessa gentilíssima
Primeira pessoa inventariante contribuinte
Usuária de bruscas vigílias)

Quantas vezes for preciso
Vou re- incinerar esse simulacro de cera
Aguçar a pele com óleo quente
Para uma anestesia completa
Cicatriz é amável virtude
E meus mortos sempre serão
Minha ferida mais amada

Maldoror me devora
A Esfinge me devora porque não atingi
O estágio mínimo de liberdade
O que haverá dentro da minha pele??
Deve haver mais que um organismo
Que funciona qual relógio
Coração pulmões etc???
Deve haver algo mais
Tem de existir uma lua estrangulada
Uma noite redefinida no cantochão
Dos cachorros fúnebres

Algo que eu possa extrair o que não sai
Esse urro encoberto pela falta de intrepidez
Melhor seria parar
Com a transfusão de sangue
Eu não sou o portenho dos espelhos
Não sou o velho com borboletas na barba
Meu CPF é inválido


Morrer com o rosto no barro
Não seria um ato digno
Assim, morro como um vitorioso
Que granjeou sempre uma insalubridade
Por tudo
Para que essa arte saia do corpo na velocidade de um


                                                        Míssil.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

O Sol é um cinzel

O Sol é um cinzel
Esculpe
Molda
Apura

Queima os traços
Traça
Mapas no rosto

E assim
Vai compondo
O homem

Aquele
Que há de ser:

Na hostil
Areia
Lenta
Do tempo

Na lenha da tragédia
De barcos em chamas
Que renomeia
Com ausências
Os olhos

O sol, o vento
O sal marinho
O fogo
Transfigura
Refaz
O desfeito

Refaz a ponto
De deixar o ser
Preparado

              Para admirar
O que se antevê
Nos dias, nos meses
Nos anos
             Sem medo.