quinta-feira, 27 de março de 2014

Canção

           

e no bar, à beira do aguardente
entre vozes várias zumbindo
como enxame de vespas
o bêbedo se aproximou da viola
testou um dó maior
e deu início ao flébil  lamento:

- a água  ardente da fonte
da fonte,  senhor:
nos dá de beber hoje
que temos sede!

Letes abençoado
que entorna ao vão do esquecimento
- ah são olvido -
nossas dores frementes

caudalosamente
maravilhas da água
correnteza próspera 
milagre batismo:
fluxo  refluxo
aguardente.

a dor do operário sem mãos
ninguém sabe;
o pesar do ambulante sem pernas
ninguém sabe;
a mágoa da mulher sem voz
ninguém sabe;

a água  ardente da fonte
da fonte,  senhor:
nos dá de beber hoje!

a vida é precária
meu deus,
nos dá este dom
de esquecer
que temos sede.          

Nenhum comentário:

Postar um comentário