quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Aparição

Meu corpo pequeno
Na cama imensa:
Tamanho barco a vela

Meu corpo de 1,74m
Intenta o sono e o esquecimento
De um dia lamacento
Com feridas frontais

Mas vem vindo da rua
Do pátio nu
Vem vindo nítido
O som de uma sacola plástica vazia
Tangida pelo vento

Ela geme como aparição
Trazida da infância prescrita
É um finado que fala o chilrear
De cartas queimadas
Fístulas de um exílio

Uma sacola plástica
Ou a cabeça de um corvo
Nas migalhas de Palas?
Um mocho agonizante
À beira da janela?

O vento, a noite fria e encorpada
A solidão a saudade de um rosto
A espera de um amigo morto
Fazem da sacola plástica
Um tumor sutil
No fruto futuro
Da aurora

Nenhum comentário:

Postar um comentário