quarta-feira, 29 de julho de 2015

mesa preferida

depois de um dia cheio
onde todo trabalho ainda é
uma esfera de plúmbea
no pensamento
ele senta à mesa preferida
e escreve

podia estar descansando
dando comida aos pombos
ou assistindo telenovela:
no entanto escreve

sem pretensão de glória
escreve 
porque o som das palavras
o alucina
e o desejo de prescrutar
o inaudito
é mais forte que o cansaço
febril do corpo

muita vez pensa
que isto acontece a sua revelia
este ir-se aos roucos ciprestes
e às águas trêmulas
que deságuam em páginas 
de cópula imagética 
forma sentido
e mitos

de certa forma
parece que há algo ou alguém
que está a escrevê-lo
e o faz
sentado na sua mesa preferida.


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