terça-feira, 30 de junho de 2015

São Francisco

Gatos sentados nos monumentos  
Sem darem conta do significado do lugar
Sem darem conta do rastro de lágrima diário...

Adentrando o labirinto de tijolo e mármore
Observei as incontáveis lápides
Atentando em alguns nomes obscuros e datas.
Pensei em todos que ali descansam:
Em algum momento da vida, corriam
Faziam planos  ficavam nervosos,
E almoçavam rápido para não perder a hora

Hoje estão livres
Hoje não precisam pagar contas
Dispensados de trabalhos embrutecedores
E sem finalidade
De entrar em filas.
De extrair dentes.
Fazer exames preventivos.
Ir a festas pelo bem da diplomacia.
De tomar remédios para insônia.
De ir ao psicólogo.
De contrair dívidas e fungos.
E também se livraram do inconveniente de ir a velórios 

Alguns, por momentos em que não se sentiam vazios,
Puderam ver arrebóis, apreciaram o gosto do café,
Sentiram a melodia de algumas canções
E o riso de uma criança.

Estão todos descansando porque  
Nem os deuses querem a imortalidade.
Chegas uma hora que cansa isso tudo.
Bastam alguns momentos bonitos
No mais é isso, tudo está certo
Um dia eu estarei, também 
Nas pequenas caixas de cimento
Descansando
Ou simplesmente ausente

Outros estarão loucos, comprando a prazo,
Fazendo empréstimos para trocar de carro,
Inquietos 
Com insônia

E indo a cartomantes.

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