somos maleáveis
com louvável diplomacia
lábios sempre prontos para dizer sim
temos a leveza das folhas secas
guardadas num livro
delicadamente
anulamos nossos gestos
machucamos o que seria
uma forma independente de pensar
sacrificamos nosso corpo
em prol do contentamento do algoz
"pode ser"
"como preferir"
"tens toda razão"
oposição e situação
ambas nos manipulam
não temos sangue
nem bandeira
tão só
um riso magro
benevolente
a areia no rosto dos tantos chutes
que levamos
limpamos escondidos
e reprimimos a lágrima
fomos domesticados desde as primeiras surras
castrados
desde as primeiras aulas
assim, pouco a pouco
nos tornamos insetos
adquirimos certa curvatura nas costas
e trejeitos evasivos
mas por ora
quase imperceptível
chegará um dia, no entanto
olharemos no espelho
não seremos mais que baratas
repulsivas baratas
e a vida seguirá
para eles
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